Reportagem publicada no Jornal O GLobo - Caderno: Carro Etc
LIMUSINE CARIOCA: o Stratus nas ruas da Penha. Para diminuir os custos, a receita americana foi adaptada á realidade brasileira. Depois de sete meses de trabalho, o automóvel ficou 2,15 metros mais comprido e 500 quilos mais pesado

Exercício de Alongamento Esticadores de carros fazem na Penha uma limusine com 6,87m de comprimento
ROBERTO na limusine que tem espaço para seis passageiros e acabamento ao gosto do cliente
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Jason Vogel
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O carrão branco passaria desperce-
            bido em Las Vegas, mas chama a 
            atenção na Penha. Quem está  de 
            bicicleta diminui a marcha, a garo-
tada que sai do grupo escolar estica o pes-
coço para ver se há algum artista lá dentro.
Mal sabe essa gente curiosa que a limusine
nasceu ali pertinho, numa modesta oficina
de lanternagem. 
Quem teve a idéia de esticar o automó-
vel foi Roberto Morabia, um analista de sis-
temas que decidiu ter seu próprio negócio. 
Inicialmente, ele pensava em fazer coches 
fúnebres, mas viu que podia ter um merca-
do maior fazendo automóveis para usuá-
rios mais animados. 
carro. Para criar versões nacionais com preços mais em conta, o ex-analista de sis- temas botou um detetive atrás de lanternei- ros que já haviam feito limusines no Rio. O primeiro encontrado foi José Henrique Leal, da Penha Circular, que havia reformado uma limusine Plymouth. Depois, veio Edmil- son José da Silva, de Campo Grande, que já espichara um Landau. A eles se uniu Luiz Henrique Rodrigues, o Magal, encarregado de transformar em realidade os sonhos que não param de brotar da cabeça de Roberto. Os testes começaram com Fuscas e Fiat 147 serrados ao meio. Logo, os esticadores de carros estavam prontos para seu pri- meiro trabalho para valer. Um site na inter- net feito por Roberto (www.limo.com.br)
atraiu um freguês, que mandou do Paraná um Chrysler Stratus V6, ano 1998. A operação começou com a instalação de cavaletes móveis sob o carro, peças que servem para alinhar o automóvel quando o monobloco é cortado ao meio por uma ser- ra. No Stratus, decidiu-se por um alonga- mento de 2,15 metros. O passo seguinte foi botar barras de aço ligando as caixas de ar do carro. Depois vie- ram reforços no piso e a estrutura do teto. — Tem chapa grossa e mais reforço que nas limusines americanas. Assim, o monoblo- co não torce nem racha — garante Roberto. Em vez de usar portas, colunas e tetos originais para fazer a parte alongada, op- tou-se por material brasileiro, moldado ar-
tesanalmente. Tudo na limusine carioca foi posto na ponta do lápis. As janelas laterais, por exemplo, poderiam até ser maiores, mas seus vidros custariam muito caro. Como o carro engordou 500 quilos, fora o peso dos seis passageiros, a suspensão foi reforçada e os pneus, trocados por ou- tros, típicos de utilitários esportivos. Por fim, um acabamento ao gosto do fre- guês: o pacote básico inclui som, TV e fri- gobar. A limusine das fotos ganhou uma for- ração bem simples, longe do que se vê no cinema, mas perto da realidade brasileira. Nesse Stratus de 6,87 metros, o serviço saiu por R$ ?? mil (fora o preço do automó- vel usado, uns R$ 20 mil). Por causa do au- mento de peso, Roberto sugere que as trans-
—Limusines podem servir para locação,
transportando turistas e empresários em 
visita à cidade — explica Roberto, sobre o 
negócio que é muito comum nos Estados 
Unidos, mas ainda raro no Brasil. 
  Um tio que morava em Detroit fez os con-
tatos e Roberto conseguiu projetos de em-
presas americanas que alongam carros (os 
stretch cars ). Uma viagem à Argentina tam-
bém ajudou a conhecer a tecnologia. 
O problema é que as limusines estrangei-
ras eram muito caras, feitas a partir de por-
tas e colunas extras soldadas no meio do 
NA OFICINA, um inusitado Daewoo Super Salon vai sendo espichado aos poucos. A Idéia É vender franquias a quem quiser fazer limusines
formações sejam feitas em carros de seis ou oito cilindros, mas diz que pode alongar um Santana ou Versailles se o cliente quiser. Só não fale em transportar noivas: —No Brasil, só se pensa em limusine para casamento. Acham que é um serviço caro, para uma vez na vida. Na verdade, o aluguel de um carro desses pode custar o mesmo que o de um táxi especial — diz o esticador. E as idéias jorram como a água da boca dos tritões de chafariz: Roberto agora pro- mete uma limusine Lincoln igualzinha às americanas e quer vender franquias a quem quiser alongar automóveis.